segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Anorexia: a moda na balança



As organizações das principais semanas de moda brasileiras resolveram encarar a polêmica sobre a anorexia de uma forma responsável: trataram de promover debates e discussões com especialistas sobre o assunto.

A São Paulo Fashion Week lançou um programa de responsabilidade social cuja primeira ação foi estabelecer idade mínima de 16 anos para as modelos desfilarem. Segundo especialistas, é quando termina o crescimento da maior parte dos adolescentes. A segunda ação acontece hoje, às vésperas do início do evento, com palestras dirigidas a modelos e a seus pais e o lançamento de uma cartilha informativa. O objetivo da publicação é orientar os jovens que pretender ingressar – e se manter – na carreira com dicas sobre vida saudável. O conteúdo será disponibilizado no site www.spfw.com.br.


No Fashion Rio, que aconteceu na semana passada, um grupo de profissionais – ex-modelos, médicos, donos de agências e bookers – se reuniu para refletir sobre as conseqüências da atual ditadura da beleza. De acordo com o gastroenterologista Luiz Mikalauskas, 70% das adolescentes brasileiras têm algum distúrbio alimentar. O Brasil é o primeiro neste ranking, seguido pela Argentina e pela França. Ele acredita que a raiz do problema está na relação da menina com a mãe, já que menos de 0,1% dessas doenças atingem meninos.


A gordura como fobia social foi o ponto evidenciado pela doutora em Psicologia, especialista em transtornos alimentares e coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC/Rio, Joana de Vilhena Novaes. Autora do livro “O Insustentável Peso da Feiúra”, Joana mostrou que o problema não é ter a magreza como padrão estético. “Padrões estéticos sempre existiram no decorrer da história. O problema é moralizar a beleza, responsabilizando o sujeito pela sua condição”.






Os especialistas: Joana Novaes e Luiz Mikalauskas




A lógica é a seguinte: hoje, com tantos recursos à disposição, só não emagrece quem não quer. Como conseqüência, acreditamos que o gordo é um sujeito fraco, sem determinação e sem caráter. Uma prova disso, segundo Joana, é que alguns empregadores já estão exigindo o IMC (que mede o índice de gordura) dos candidatos. Em um mundo que valoriza a agilidade, quilos extras são inaceitáveis. “A imagem associada à da gordura é a do fracasso”, destacou.

Para a coordenadora do Fashion Rio, Eloysa Simão, culpar a moda pelo problema é enxergar só superfície. “A passarela apenas reflete o momento social”. A questão, segundo ela, é outra. Há que se perguntar “quais mensagens os jovens estão recebendo para associar a gordura à rejeição de uma forma tão forte”.

A ex-modelo Luisa Ponte, que teve anorexia e hoje está curada, vê a história de outra maneira. Quando iniciou na carreira, ela tinha 1.74m e pesava 54 quilos. Algum tempo depois, chegou aos 47 quilos. “Todo mundo dizia que eu estava linda”. Luisa lembrou que na época ela não queria menstruar para não parar de crescer (por isso, não comia) e, assim, continuar com o corpo andrógino. “Até que ponto a moda não influencia isso?”, questionou.

Como se vê, há mais perguntas do que respostas, mas o importante é que elas continuem sendo feitas. Ter consciência do problema é o primeiro passo para resolvê-lo.

Serviço:
Palestra sobre saúde a pais e modelos:
Local: Auditório da Oca, Parque do Ibirapuera, portão 2
Quando: hoje, às 10h para modelos e às 15h para os pais

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